9.11.07

Espaço Cultural

O Thp inicialmente é um blog de humor, mas vez ou outra abrimos espaço para coisas, digamos, mais intelectuais, mais reflexivas, e esse post tem como fim homenagiar um dos maiores escritores estado unidenses do século XX, Norman Mailer, que veio a falecer no último sábado (10/11).
Como a internet é um dos meios mais fácies hoje em dia de se levar conhecimento (ou de se tirar também), nada melhor do que um blog para isso.

Mailer é um dos expoentes do New Journalism e importante personagem da literatura americana no século passado, aqui irie postar uma entrevista que ele concedeu há 4 anos atrás sobre os EUA e a invasão do Iraque e sua convicção esquerdista anticapitalismo.

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"Norman Mailer: ‘Só levamos destruição e morte’

Xavi Ayén, La Vanguardia

Aos 80 anos, o americano Norman Mailer, um dos grandes escritores do século XX, se tornou um dos maiores polemistas em relação ao poder americano. Em seu mais recente livro, “Why are we at war?” (Por que estamos em guerra?), ainda não lançado no Brasil, Mailer dispara algumas das mais agudas críticas ao governo de George W. Bush. Na entrevista ao jornal espanhol “La Vanguardia”, ele acusa a Casa Branca de ter inventado motivos para a invasão do Iraque. Em sua opinião, em vez de levar democracia, os Estados Unidos só levaram violência e morte ao país. Preocupado com o futuro da sociedade americana, ele lembra que 'a liberdade e frágil' e é preciso lutar por ela.

Antes de mais nada, permita-me lhe felicitar pelo seu aniversário de 80 anos, em janeiro.

NORMAN MAILER: Obrigado. Sempre pensei que não iria passar dos 40, mas aqui estamos. Tive nove filhos, fui casado várias vezes. Não posso me queixar: tenho uma esposa, continuo escrevendo. Por sorte, minha cabeça continua funcionando. Meus joelhos não estão ruins, mas estou ficando surdo...

O senhor costuma ser acusado de antiamericanismo. O que acha disso?

MAILER: Dificilmente poderia odiar meu país. Amo a liberdade. Tive a sorte de ser escritor e obter bons salários desde os 25 anos. Em 1959 disse ao diretor do FBI, na TV, que ele tinha provocado mais danos ao país do que Stalin. Anos depois, tive acesso à minha ficha do FBI. Tinha 300 páginas. Estavam muito chateados comigo, mas ninguém me prendeu. Desfrutei de grandes liberdades. O que digo é que a liberdade é frágil e, se não lutarmos por ela, vamos perdê-la, porque a democracia não é um estado natural do ser humano em sociedade, pelo contrário. Há que se esforçar muito simplesmente para mantê-la.

O senhor se define como um conservador de esquerda. O que é isso?

MAILER: Acredito que há coisas extraordinárias neste mundo que estão em vias de extinção e que temos de lutar para que sobrevivam. Por exemplo, a arquitetura antiga, como a de Edimburgo, ameaçada pela enorme feiúra das novas construções. Acredito que as sociedades humanas deveriam se basear numa cooperação que não estivesse centrada no dinheiro, mas na experiência concreta do homem. Meu conservadorismo de esquerda é a denúncia dos aspectos opressores e totalitários das novas tecnologias, é uma tentativa de conservar o que há de bom neste mundo. Não creio na utopia da ciência: “confie em nós e viverá 200 anos com as mesmas condições que tinha aos 50”. É totalmente falso. Não podemos fazer nada contra a lei natural da energia.

Seu último livro fala da guerra do Iraque.

MAILER: Opus-me radicalmente a ela porque se disseram coisas inventadas. Não encontraram sequer uma arma de destruição em massa. Saddam é um monstro, mas não tinha vínculos com Bin Laden. Pelo contrário, eram rivais. As pessoas não importam para nossos líderes, o que fazem é matá-las às centenas. Para quê? Nada pode levar a democracia a um povo, esta é uma idéia equivocada. A democracia é um estado de graça que só é alcançada por povos com muitíssima gente conscientizada. As únicas coisas que levamos ao Iraque foram violência e morte.

O senhor conheceu pessoalmente presidentes americanos como John Kennedy e Ronald Reagan. O que pensa de Bush?

MAILER: Por trás da guerra do Iraque está o seu desejo de se apoderar do Oriente Médio e do mundo. É perigoso: segunda sua própria confissão, crê que Deus o livrou do alcoolismo para o levar até a Casa Branca. Isso dá medo.

O senhor preferia Bill Clinton?

MAILER: Ah, você não conseguirá que eu fale bem de Clinton. Melhorou as relações entre brancos e negros, sim, mas defendeu os interesses das grandes empresas, abandonando os planos de criar um estado de bem-estar social para os pobres, por que isso não coincidia com o bem-estar das empresas. "

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